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Trecho 3 (Tracoá-Cujubim)

 

 
                365 km de pedalada em estrada de chão, e ainda faltavam uns 25 km para chegar ao asfalto, saindo de Campo Novo de Rondônia sentido Ariquemes, para então seguir para Cujubim, onde encontraria a galera para escalar boulders no sábado (21/06). Peguei estrada já perto das 9h, muito animado com o que tinha visto nas proximidades daquela pequena cidade ajeitada. As paredes do Maciço Tracoá não saíam da minha cabeça e embalavam minhas pedaladas na BR 421 cheia de morros. Já ansiava por asfalto, onde geralmente os morros são mais amenos devido ao trabalho das máquinas para diminuir as declividades dos terrenos e deixar a pista mais regular. 
                 Logo na saída de Campo Novo, uns 4 km, rolou o que eu já imaginava que pudesse acontecer. A polícia me abordou (rs). Deve ter sido alguma denúncia tendo em vista que ali é rota de tráfico e armas, como comentei antes. Mas foi uma abordagem tranquila. Expliquei o que estava fazendo e eles ficaram admirados. Confirmaram que nunca tinham visto um cicloturista pela região e deram algumas informações úteis para o projeto. Prossegui nas pedaladas.
                Faltando 3 km para o asfalto, outro pensamento atraiu o fato. Um dos rolamentos traseiros não aguentou a quantidade de buracos nas descidas embaladas com o peso da bike. Empurrei a minha "parceira" por 17 Km no sol das 10h. Nas subidas, ia empurrando. Nas descidas, equilibrava a bike no outro rolamento que ainda funcionava. Era um show de malabarismo, e ainda tinha que ficar atento com os carros, que no asfalto pegam mais velocidade. Não pedi carona porque sabia que o Carlos Rangel (funcionário do ICMBio), passaria por ali logo logo. Outra opção também era meu pai, com quem falei na noite anterior e soube que passaria pela Estrada Parque naquela manhã,  pela mesma Rodovia que eu, do trevo de Buritis em diante. Mas  ainda faltavam 12 km até o trevo. O jeito era empurrar, já que não sabia se meu pai já tinha passado.
                 Próximo às 14:30hs, passados 5km do trevo de Buritis, o Sol já era parceiro e eu tentava fazer fotossíntese para me energizar (rs). O que me distraía era as rochas que apareciam cada vez mais numerosas. Uma boa região para explorar, com Boulders e Afloramentos de Granito por todos os lados. De repente, uma Saveiro pára atrás de mim no acostamento. Era meu pai, que se atrasou na saída (santo atraso). O pensamento novamente atraindo... (rs). Meu tempo de peregrinação à pé chegava ao fim. Restavam uns 10 km para Monte Negro.
                Seguimos para Ariquemes (era feriado e seria dificil achar uma bicicletaria aberta em Monte Negro.). Lá, depois de algumas voltas na cidade, uma pequena bicicletaria solucionou o nosso problema, e ainda compramos rolamentos reservas (a experiência nos ensinando). Já tinha ligado para Alester (amigo da Selva, de Buritis), e sabia que estaria em Ariquemes. Ele foi ano nosso encontro e se prontificou a ajudar também na busca pela bicicletaria. Decidi que daria um tempinho de uns 3 dias na pedalada. Continuei em uma prazerosa viagem de diálogos com meu pai até Ji-Paraná, onde ele seguiria para Cacoal e eu encontraria parte da galera escalando pela região. Estava precisando dessa viagem com ele. Foi bom para nós. Turistamos pela região.
                Pegamos um hotel em Jaru de quarta para quinta feira, e na tarde da quinta (19/06), encontrei com Brasil, Lélia, Neima, Camila e Thaís para escalarmos a via "Little Janis", no morro da AABB em Ouro Preto do Oeste. Me despedi de meu pai que continuou viagem. Pegamos um hotel em Jipa. No dia seguinte, escalamos a via "Sexta Feira 13" na pedra do Urubu/pedra do Chapadão (conhecida por regionais das duas formas). Pude perceber que, depois de tanto pedalar com uma alimentação mais específica, estou me sentindo bem leve para escalar. Aquela foi uma escalada bem prazerosa.
               Decepcionante foi ver indícios de testes de explosão nas pedras soltas próximas à pedra do Urubu. Isso nos desanimou, levando a crer que o novo proprietário da área já está estruturando o local para virar uma pedreira. Pensamentos negativos tomaram conta da turma. Mas precisamos mudar isso... Agora é pensar em uma solução. (Vamos comprar a área (rs) - Campanha Nacional de doações "Salve a Pedra do Urubu")
               Reencontrei meu pai na tarde da sexta, após a escalada. Ficamos todos mais uma noite no hotel. Peguei carona com ele no sábado retornando à Ariquemes, enquanto o Brasil e a Neima escalariam a "Little Janis" pois na quinta havia escurecido e eles preferiram adiar a escalada. Camila e Lélia retornaram de ônibus à Porto Velho. Ainda iria encontrar com Brasil e Neima naquele dia, pois o combinado era encontrar ele e mais uma galera em Cujubim. 
                Peguei a bike que ficou em Ariquemes na casa do Alester. Não consigo expressar meu agradecimento por toda essa galera que conheci no interior. Simplesmente sensacional. A família  de Alester (muito hospitaleira), me convidou para almoçar, mas preferi pedalar para chegar logo à Cujubim, mais precisamente no Sítio de seu Domiciano e dona Dora. Dois irmãos que sempre nos recebem de portas abertas. Segui animado pela BR 364 sentido Porto Velho, agora com pneus lisos (aproveitei para trocar os borrachudos que usava na estrada de chão).
                   Na entrada para Rio Crespo, pausa para comer no restaurante da família do Willian, mais um brother que conheci em Buritis. Muito gente boa. Foram alguns minutos de prosa. Almocei por conta da casa e segui para a entrada de Cujubim. Queria agradecer novamente à essa galera super bacana de Buritis. Só somaram ao projeto fazendo ele se tornar real.
                No caminho, ainda encontrei um pequeno afloramento de granito às margens da BR 364 e logo em seguida pausa na Fazendinha pra se refrescar. Lá encontrei muita gente conhecida. Até Deuzemínio e Jacinta (da Fazendinha de Ouro Preto) com a família. Amigos dos meus pais também conversaram bastante comigo lá, até que Brasil e Neima chegaram, anunciando que a galera não iria mais para Cujubim naquele final de semana. Vários "sinais" indicavam as opções de escolha naquele momento. Resolvi pegar uma carona com eles e descer para Porto Velho para resolver algumas pendências pessoais. Deixei a "parceira" guardada na Fazendinha. Na carona de volta, ainda registramos o setor de boulders Rey do Peixe.
                 Depois de duas semanas em casa, descansando e treinando, hora de voltar a pedalar. Agora acompanhados de Pedro e Brasil, que naquele sábado (05/07), fariam o percurso comigo até os Boulders de Cujubim. O restante da galera nos encontraria lá. Nosso atraso na saída de Porto Velho, fez Selva e Matheus (que também iriam escalar) esperarem por mais de 2 horas na fazendinha. Que vacilo... Nos desculpamos e a fizemos esperar mais um pouco (rs)... Esperar a Ana e a Márcia que viriam pegar o carro da Márcia que trouxe as bikes. Elas passaríam por nós no caminho. 
                O atraso não foi de todo ruim, visto que o fim de tarde foi muito mais prazeroso para a pedalada que o Sol das 14h que estava programado. Um pôr do Sol lindo. Pegamos parte do trecho à noite. Próximo às 19h os carros da galera passaram por nós, e lá pelas 20 hs concluímos o trecho. Foi bem bacana ter a companhia do Brasil e do Pedro. Ver Pedro passando algumas técnicas de descanso para o Brasil, e observar o Brasil superar seus limites com uma bike não muito apropriada para aquele trajeto. Mas mandou muito. Ainda avistamos algumas cobras no caminho tentando se esquentar no asfalto quente por conta do sol. Um dia de aventura.
                Naquela noite, armamos acampamento, fizemos a janta e terminamos a noite olhando para as estrelas e conversando. Que céu lindo... Acordamos cedo para escalar os boulders antes que o sol mostrasse sua força. Foi o primeiro contato de Selva e Matheus com escalada. Eles se saíram muito bem. Matheus, embalado pela inocência, foi mais além. O medo é menos presente nos mais novos, isso auxilia em alguns desafios. Selva também superou alguns medos e experimentou um pouco do que é a escalada. Ana mandou muito  e escalou linhas que em outras oportunidades ficaram como desafio. Márcia repetiu suas escaladas, preparando-se cada vez mais para setembro. Pedro também retornou ao boulders mais recuperado de uma lesão no pulso. E eu fiquei pianinho, escalei uma linha e tentei outra, mas estava me resguardando porque ainda iria pedalar naquele dia.
              Depois da escalada fomos nos refrescar no rio, para então desmontar o acampamento e tomar cada um o seu rumo. Conversamos ainda um pouco na saída, e a angústia foi tomando conta do meu coração. Sensação de solidão e saudades estavam dando um nó na garganta. E lá se foram eles, de volta a PVH, e eu segui no sentido oposto, para Cujubim. Me atrasei um pouco para fechar as porteiras, e quando saí no asfalto, um carro buzinando me chamou atenção. Parecia um motorista tentando me avisar que estava passando, mas quando olhei para trás, era um carro conhecido: Fábio Tubarrão, nosso GURU.
                Ainda na noite passada pensei que ele apareceria na manhã seguinte, mas ele chegou já próximo ao meio dia. Voltamos à sede de seu Domiciano, que nos animou a conhecer outros blocos mais para o fundo de sua propriedade. Fui lá conferir com o Tuba, mais para fazer segurança mesmo, pois estava sem sapatilha (enviei de volta com o Brasil). Foi massa. Achamos algumas linhas, a maioria difícil. Alguns blocos eram enormes mas vale a pena equipar para uma escaladinha guiada. Depois de algum tempo com o Tuba, conversando sobre alguns assuntos e motivações, lembrei o que estava fazendo por ali. Foi o suficiente para mudar meu ânimo. Agradeço ao Tuba pela força. O Guru da Montanha ataca novamente, -"Força na Peruca!"
                Retornei ao pedal por volta das 15hs, com as canelas todas raladas do capim alto, mas com um sorriso no rosto, vibrante e confiante. Segui para Cujubim que fica a 21 km, e lá peguei um hotel, encerrando com êxito mais um trecho do projeto. Valeu a todos que compartilharam dessa aventura, das mais diversas formas... Vocês são demais. O próximo passo ainda está por ser definido pois as opções de continuidade do projeto estão em aberto.
 
Machadinho do Oeste, 08 de julho de 2014.
 
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